Coluna do Marcus Vinas

02/02/11 - Cadê o Tio Sam? - Crônica

Passei toda a década de 1980 assistindo a filmes e séries que me educaram dizendo o quanto os Estados Unidos da América do NORTE eram imbuídos da luta pela liberdade seja onde for. Na última década do século passado as séries eram mais realistas, as bombas eram de verdade, o sangue era de verdade. Lá ia o Bush pai defender o pobre povo iraquiano que sofria com a tirania de Saddam! O Bush pai deu com os burros n’água, ou melhor, na areia.

Século novo, guerra nova, discurso antigo! Refiro-me aqui ao meu maior herói, Bush filho! Abro um espaço para me explicar: Digo que Bush filho foi meu herói porque ele deu início à onda de antiamericanismo, ou seja, ele mostrou a face do inimigo e o mundo não gostou. Nem mesmo eu, que fui educado para admirá-los escapei. Confesso, todavia, que foi fácil. Pronto.

Voltando.

Bush filho marchou com sua tropa e invadiu o Iraque cantarolando “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós...”. Mesmo contra a vontade de todos os seus aliados históricos, criando situações inéditas no mundo como, por exemplo, a guerra do Golfo 2, que foi o único conflito internacional em que Alemanha e França ficaram do mesmo lado. Sem exageros, afirmo que até esmeraldinos e vilanovenses se uniram. Até a ONU foi contra. Resumindo, nem o Galvão Bueno era a favor. Mas, mesmo assim, Bush filho pôs em andamento seu plano de guerra com ações cirúrgicas que desmantelariam o regime de Saddam em oito meses. Não posso conter a risada cada vez que me lembro que o plano inicial era esse. Se me permitem, leitores, abro espaço para um “Há Há Há”. Obrigado pela gentileza de lerem minha humilde risada.

E assim foi nas outras oportunidades. Guerra e liberdade. Vejam: Guerra de Secessão – liberdade para os negros, Guerra do Vietnã – liberdade para os vietnamitas do sul, Grande guerra 1 – liberdade para a civilização ocidental, Grande Guerra 2 – libertar o mundo dos nazistas e por aí vai. Guerra santa, quente, morna, fria, parafraseando Renato Russo. Enfim, se você for à Wikipédia e checar a página da história dos Estados Unidos, ao todo a palavra guerra se repete 67 vezes.
Mas vamos ao ponto. A pergunta que não quer calar. Por que diabos os Ianques não vão defender a liberdade dos egípcios?

Elenquei alguns motivos. O mais romântico é que eles estão tão afundados na própria merda que ficaram sem pernas para resolver a merda alheia. Acho que não, na primeira grande guerra eles também não estavam economicamente bem, mas se enfiaram na treta.

Outro motivo, agora mais plausível. O Egito não possui metade do petróleo do Iraque ou do Kuwait. Também achei que não pode ser só isso, afinal lá ainda tem petróleo, mesmo que em menor quantidade. Mas ainda tem o turismo, o controle do canal de Suez e a porta de entrada para o mundo árabe.

Ainda pode ser devido ao fato contraditório de os EUA serem um dos grandes patrocinadores do governo de Mubarak, governo que não passa de uma ditadura velada, afinal o cara assumiu a presidência em 14 de outubro de 1981, após o misterioso assassinato de seu predecessor. O difícil de conceber é que o povo está privado de liberdade quase por completo. Até a internet o homem mandou suspender. Nem o Ahmadinejad do Irã teve colhões para tanto!

Pensei, pensei e não descobri ainda o motivo de a liberdade no Egito não ser interessante para os EUA. Talvez eles tenham outros interesses. Depois de muito batalhar na política, descobri que nada é por acaso nesse campo de atuação. Tudo que acontece, qualquer notícia que vaze é do interesse de alguém. Refiro-me aqui aos famosos vazamentos do WeakLeaks e às relações diplomáticas entre Brasil e EUA. Me ponho a pensar se o desinteresse pela liberdade do Egito está relacionado com as proféticas palavras de Morais Moreira... “O tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada”?

P.S.: Convoco aos meus entusiasmados leitores a me ajudarem a descobrir a resposta desta sublime questão. Por favor, comentem!

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21/01/11 - Democracia demais engorda - Crônica

No último dia 20 de janeiro de 2011 me embonequei todo, tomei uma dose extra de analgésico para aplacar a dor de um antigo ferimento de guerra e fui ao Oscar Niemeyer para ver o Cesar Camargo Mariano pela primeira vez. Estava feliz da vida, saí de casa com a esposa, passei na sogra para pegar as cunhadas (que milagrosamente estavam prontas para sair, parabéns Laiz e Juliana, que Deus conserve).

Ao chegar, desvirginei-me do lugar com uma impressão super positiva. Em seguida Pablo Kossa assume o microfone e gentilmente requisita o óbvio e escasso silêncio do público goianiense. Nessa hora senti um amargor em imaginar como seria. Na sequência Marcos Lobo, uma figura de compleição esguia girando aqueles tubinhos chanfrados de instalação elétrica que nunca me lembro o nome. O magricela encheu o palco, impressionante, que vigor, que banda! Dignos de um sonoro PQP (censurando pela editoria do blog)!

Talvez pelo êxtase de início de espetáculo, ou pela inquietude nervosa de Marcos Lobo, nem me liguei tanto no ruído da boiada. Mas amigos acreditem, o ruído estava lá. Contive o meu perene mau humor e tentei seguir adiante. No intervalo saí para contribuir com o crescimento econômico e a geração de empregos, ou seja, fumar.

Lá fora pude reparar com clareza o que ocorria, muita gente não estava dentro do teatro. Pensei, pobrezinhos não conseguiram lugar mas perseveram, mesmo do lado de fora o ensejo de assistir aos shows. Inocente criança fui nessa hora.

Voltei pra dentro. Novamente o simpático Pablo Kossa retoma o pedido inicial. E logo depois o momento que eu aguardava: Cesar Camargo Mariano! Há que se babar um ovo para esse jovem senhor. Entrou calado, sentou-se ao piano e então falou como nunca. Usando uma dinâmica bem intimista nos primeiros acordes. Aí sim, ficou evidente a balbúrdia do caos lá de fora. Fiquei puto! Quem me conhece sabe que nesse momento eu prestava mais atenção no ruído do que na música e esse jeito xarope de me ser me irrita ainda mais, começo a pensar: "Por quê sou tão idiota assim? Pare de prestar atenção no que não te interessa." Aí penso que já não presto mais atenção nem em um ou no outro e mergulho em um delírio cognitivo imbecil e infinito, blá blá blá.

Sou bruscamente extraído de mim pelo Sr. Mariano que começa a falar. Em sua fala ele me abre os olhos quando cita a importância de um evento realizado com dinheiro público não cobrar ingressos. Ta aí! Concluí estupefacto. Declaro que concordo plenamente com o Sr. Mariano e me junto a ele na ovação ao projeto Goyaz Festival e aproveito aqui para deixar meu muito obrigado pela iniciativa dos realizadores. Voltemos. Daí em diante virei a cabeça e notei que os pobrezinhos de outrora, não estavam sofrendo por não poder ver o show, mas sim bebiam e congregavam ruidosamente sem sequer notar que no palco tocava um senhor importante. Se checarmos um breve currículo, veremos que ele é pai da Maria Rita, já traçou a Elis Regina e até toca piano! Compilando tudo, os ruidosos eram meros arroz de festa, aqueles que só vão a algum lugar porque já há outras pessoas lá. Nada contra congregar, sou completamente a favor, confesso até que já fui arroz de festa na faixa dos treze aos dezoito anos de idade, não há nada de mal nisso. O problema é que vi no meio do arroz pessoas que eram arroz de festa desde a minha época. Reitero, sou a favor da congregação, mas que impere o bom senso e a comodidade. Refiro-me aqui à comodidade do arroz, afinal deve ser um saco xavecar uma mina enquanto um bando de velhotes caretas ficam encarando com cara feia e fazendo psiu ou xiiii.

Voltemos ao que é bom. O show foi exuberante e simples. O velhinho é mais jovem que eu, muito informal e à vontade no palco, até liberou a arrozada pra balburdiar. Gente fina, né? O talento do cara é indiscutível e o entrosamento com os outros dois do trio era invejável.

No fim, valeu a pena ter saído de casa. Os dois shows foram inesquecíveis. Amanhã, dia 21 de janeiro tem mais e lá vou eu manter o peso ou quem sabe até engordar, pois com tanto arroz assim não há dieta que vença e nem boa musica que impeça.

Marcus Vinas é publicitário, músico e especialista em Cinema.

6 comentários:

  1. Quando eu parar de rir,farei o comentário,kkkk!maravilhoso!devo aprender a pastar com "eles" ou existe um curso expecífico pra isso no Brasil?

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  2. Raaaaaaaaaaaaaaaaa....Marcus, que bom te ler! Parece que estava com vc no show e te imagino roendo as unhas e batendo as pernas!
    Mas...voltando ao assunto, nunca tinha lido seus textos e vc é muito bom nisso!

    Alice, muitos parabéns pela iniciativa!

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  3. Mas o que é isso meu amigo! Que texto delicioso! Adorei, de verdade... Continue escrevendo!

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  4. Quanto mais os anos passam maior acho a semelhança entre nossa malfadada xaropisse. Delicia de texto chuchu.

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  5. Hahaha!!!Ainda bem que alguém dá um grito, afinal, quantas e quantas vezes eu passei raiva em locais não grátis, mas pagos, e que os "arrozes" não paravam de saltitar na panela. Confesso que sou otimista e espero que o povo goiano aprenda a se comportar em lugares onde não há o tal do sertanejo, afinal aos poucos e beeem devagaaaar eles vão percebendo que lugar de arroz falante é na cozinha!

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  6. Para fazer seu comentário sobre um dos textos, comece com o título e dois pontos, ex:
    Cadê o Tio Sam?: Muito bom o texto, Marcus! Você tem uma fluência rara. A gente lê imaginando que você está falando ao vivo e a cores.

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Charge - Almeida (Marcus Vinas)

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