Repercussão do IV Encontro de Blocos de Goiânia

Queridos leitores e seguidores do blog,

É por indignação e respeito aos amigos artistas, produtores e colaboradores do projeto de resgate do carnaval de rua de Goiânia (que por sinal não tem nada a ver com "muvuca" ou baderna, mas sim com educação musical, preservação do patrimônio imaterial, criatividade e alegria) que faço questão de sair um pouco da linha do blog e publicar aqui o apelo do colega Christiano Verano e a reprodução da matéria da jornalista Rafaella Carvello, do jornal Diário da Manhã acerca das agressões sofridas pelos artistas dos grupos musicais que se apresentaram em Goiânia neste feriado.

Como todos vocês sabem, sou também cantora, fui convidada a participar da apresentação do grupo Coró de Pau e aceitei, mas não pude estar no evento por problemas particulares. Por isso me sinto também espancada e ofendida.

Agradeço o carinho de vocês e peço que reflitam um pouquinho sobre o caso e ajudem a divulgar.

Texto 1, de Christiano Verano (MITO Projetos Sócio-Culturais)

Caros amigos, colegas e parceiros,


Foi com muita tristeza que assisti a primeira noite do IV Encontro de Blocos de Goiânia terminar na delegacia, com 5 pessoas detidas e outras dezenas machucadas pelas agressões da polícia militar.

Três professores do projeto Lixo Ritmado Batuque Reciclado foram agredidos por policiais, dois deles detidos, dentre eles meu irmão, Thiago. Ao tentar proteger sua esposa, que levava safanões dos cavalos da PM e teve os cabelos puxados por um policial montado, foi reprimido com spray de pimenta no rosto e golpes de cassetete. Foi golpeado e contido por três policiais, algemado e detido, sob a alegação de desacato a autoridade e resistência à prisão.

Minha cunhada e outras tantas pessoas que fotografaram e filmaram o episódio tiveram suas câmeras fotográficas e celulares roubados pelos policiais. Uma amiga foi cercada por 3 policiais montados e um deles disse a ela: "Passa a câmera, vagabunda!!"

Foi triste ver que em quatro anos de Encontro de Blocos no carnaval de Goiânia, esta foi a primeira ocorrência de tumulto, provocado justamente pela instituição que deveria primar pela segurança pública e do público. Mais uma vez a polícia militar dá um exemplo de que ainda convivemos com traços da ditadura no Brasil e mostra como nossa democracia ainda é frágil.

Enfim, no segundo dia do evento, os professores do projeto Lixo Ritmado, mesmo revoltados com o ocorrido e com os corpos ainda doloridos pela agressão sofrida no dia anterior, mantiveram a programação e levaram seus dois blocos de percussão de lixo e sucata (Batuque Revolução e bloco Vida Nova) para se apresentar. As 55 crianças e adolescentes do projeto tocaram bonito e passaram sua mensagem de paz.

Agora estamos mobilizando todas as pessoas envolvidas neste lamentável acontecimento para que esses maus policiais (incluindo o comandante da operação) sejam identificados, julgados e condenados pelos abusos cometidos. De preferência que sejam expulsos da corporação, pois não honram o emprego público que têm. Só assim poderemos voltar a construir este belíssimo movimento de resgate do carnaval de rua de Goiânia. Um evento democrático, que beneficia toda a população e valoriza nossa cultura e grupos artísticos da capital.

Espero, de coração, poder contar com a solidariedade de todos.


Texto 2: matéria de Rafaela Carvello publicada no Diário da Manhã publicada em DM 14/02/2010


Estudantes e foliões reclamam de violência policial

A alegria e tranquilidade da primeira noite de desfiles dos blocos de rua na Avenida Araguaia terminou com repressão policial. Após a apresentação do grupo De Volta ao Samba, uma barreira de contenção foi formada pela cavalaria da Polícia Militar em frente ao palco. Participantes foram agredidos com coronhadas e spray de pimenta. Cinco pessoas acabaram detidas por desacato. A PM afirma que os policiais reagiram a um copo de cerveja lançado contra um soldado.

Segundo os participantes do evento, ao final do show uma das anfitriãs agradeceu a presença das pessoas e se despediu, enquanto os policiais se posicionavam. De acordo com o advogado Gregório Alexandre de Castro, 34, um dos presos acusado de desacatar a autoridade policial, os policiais nada disseram aos participantes do evento. Preocupados em desocupar o local, os policiais partiram para o público com spray de pimenta e cassetetes.

O arrastão promovido pela Polícia Militar deixou pelo menos 20 pessoas feridas. Gregório, por exemplo, foi a vítima com maior escoriações. Após ser preso, ele foi encaminhado ao 1º Distrito Policial, onde desmaiou. Foi levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e ficou constatado traumatismo craniano moderado. Ainda na madrugada, ele foi transferido para o Hospital Neurológico.

Para a esposa do advogado, Osana Rosa de Araújo Castro, 26, que presenciou o marido ser agredido e não pôde fazer nada, a atitude representou um ato de barbaridade. "Os policiais encostaram duas moças e um rapaz num carro e começaram a bater muito. Meu esposo tentou separar e cinco policiais o agrediram até ficar totalmente machucado. O algemaram e o levaram preso", relata Osana.

A Polícia Militar afirma que os policiais tentaram conter um homem que jogou um copo de cerveja em um dos militares. E durante a autuação outras pessoas começaram a agredir os policiais em defesa do jovem que estava sendo preso. "A PM estava tentando evacuar o ambiente, quando um grupo de jovens resistiu", afirmou Bites, major da PM.

A organização do evento tem uma parceria com a PM para que a segurança do local seja assegurada. Segundo as vítimas, os policiais não estavam identificados. Alguns usavam colete a prova de bala e tinham as mangas da farda onde o nome está grafado dobradas. Luciana, professora municipal, foi uma das primeiras vítimas da agressão. Ainda estava em frente ao palco esperando por amigos quando foi atingida nos olhos com spray de pimenta. Permaneceu alguns minutos no chão quando foi recolhida.

Minutos após abrir os olhos, visualizou uma amiga de vestido sendo arrastada por um dos policiais da cavalaria. Após as prisões e a dispersão do público, um grupo de manifestantes se concentrou na porta do 1º DP. Estudantes universitários, familiares dos detidos, vítimas do arrastão, religiosos e o deputado Mauro Rubem (PT) protestaram em frente ao prédio. A polícia, preocupada com um possível motim, acionou reforço policial para a delegacia.

Segundo Mauro Rubem, a atitude policial no incidente é retrato do despreparo. "As vítimas estão sendo tratadas como acusados. É mais uma prova da falta de preparo e de atitudes de preconceito com determinados grupos sociais", afirma o deputado.

A segunda noite de carnaval na Avenida Araguaia no setor Central teve início com a apresentação dos cinco blocos de rua: companhias Boca em Boca, Boca de Lixo, Bumba Meu Boi, Bloco de Pequi e Revolução de Goiânia fizeram a alegria do público.

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